quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

ABAIXO A LEI DA GRAVIDADE!

Texto de Aloisio Guimarães

Uma das mais memoráveis campanhas eleitorais já ocorridas em Palmeira dos Índios se deu no ano de 1969, quando concorreram ao cargo de prefeito, de um lado, o pecuarista Minervo Pimentel e, de outro, o empresário Noé Simplício, até então um dos homens mais ricos do nosso estado.
Apresentaram-se para os eleitores com duas ideologias políticas distintas: Minervo, com o slogan “COM DEUS E O POVO”, se apresentou como sendo o defensor dos humildes, contrapondo-se à elite palmeirense, representada na figura de Noé.
Tinham compleições físicas diferentes: Minervo era baixinho; bigodinho no rosto; óculos de grau, com armação grossa, de cor preta; rosto moldado pelo trabalho árduo... Noé tinha estatura mediana, fala mansa, boa cultura, aparência de nobreza e riqueza...
Lembro-me que, quando criança, comprei muito leite a dona Lourdes (esposa de Minervo) e muito cigarro (para o bar do meu pai) no armazém de Noé.
Voltando ao causo...
Foi uma eleição acirrada e disputada voto a voto. Quem viveu nessa época jamais vai esquecer o dia do encerramento da campanha política. Neste dia, o comício de Noé acontecia na Praça da Independência e, por volta das 11 da noite, no final dos discursos, eis que, do outro lado da praça, surge uma passeata de Minervo Pimentel, com ele sendo carregado nos braços do povão. Todos que estavam no comício do Noé, sem exceção, ficaram impressionados com a multidão que seguia Minervo Pimentel.
Pois bem, contados os votos, Minervo foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios por apenas 6 (seis) votos. Isso mesmo, meia dúzia de votos!
A elite da cidade nunca engoliu essa derrota e procurou transformar o prefeito em um ser analfabeto, numa figura folclórica, criando diversas histórias a seu respeito.
Uma das mais citadas é a seguinte:
A companhia de abastecimento de água do estado - CASAL - estava ampliando o sistema de distribuição de água de Palmeira dos Índios e necessitava construir um novo reservatório. Como todo prefeito quer mostrar suas obras ao povo, Minervo defendia a tese de construir o tal reservatório na parte baixa da cidade, em um local em que a população pudesse vê-lo nitidamente. Acontece que os técnicos da companhia de água alegaram que, por economia, o reservatório deveria ser construído na parte alta, uma vez que a distribuição da água respeitaria a famosa “Lei da Gravidade”, de Isaac Newton.
Ao ouvir tal alegação, o prefeito teria dito:
- Que Newton que nada! Quem manda nessa cidade é o prefeito e o prefeito sou eu!
Dito isso, chamou o vereador Jaime Guimarães, seu líder na Câmara Municipal, e ordenou:
- Jaime, reúna imediatamente os vereadores e elaborem uma lei para derrubar essa tal Lei da Gravidade.
No outro dia, o vereador Jaime Guimarães volta e lhe comunica:
- Senhor Prefeito, não podemos derrubar a tal lei porque ela não é uma lei municipal, ela é uma lei federal.
De uma tacada só, atingiam não somente o prefeito, mas também um de seus filhos, engenheiro e conceituado Professor de Física.
A história ganhou repercussão nacional, sendo noticiada na página 12 do Jornal do Brasil, edição de 10 de junho de 1971 e serviu de texto para piadas com prefeitos pelo Brasil afora.
Imposição ou não do prefeito, existe um reservatório construído na parte baixa da cidade.
Gozação à parte, Minervo Fernandes Pimentel foi um dos melhores prefeitos que Palmeira dos Índios já teve. Quem estudava no Colégio Estadual Humberto Mendes (à época um dos melhores colégios do estado) ou morava nas suas imediações, sabe muito bem o benefício trazido por uma ponte por ele construída e logo batizada pelo povo de “MINERVÃO”.
Em minha opinião, o seu único “pecado” foi ter acabado com a bela Praça das Casuarinas.
Como homem e administrador, Minervo Fernandes Pimentel foi uma reserva moral de Palmeira dos Índios.

8 comentários:

  1. Muito "forte" o Minervo, não conseguiu acabar com a lei da gravidade, mas construiu o reservatório onde ele achou que ficaria melhor pra ele...Aqui conosco vivemos também quase uma "novela" nosso prefeito é um dos deputados mensalões, mas faz tudo para deixar Jandaia um verdadeiro "cartão de visitas" e o povo não quer nem saber: "Rouba sim, mas é para Jandaia"...E na cabeça do povão, ISSO É O QUE IMPORTA"! Certamente será eleito quantas vezes for possivel. Até, Aloisio. Bjs.

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  2. Aloísio, você é mesmo o cão chupando manga!!!
    Gostei do belo relato; Seu Minervo era tampa de
    foguete ... Agora, Chico Pimentel, diga que essa pitoresca história era invenção minha após duas rodadas de chopp, diga!!! Eu aumento, eu não invento!!! Aloísio, meu caro jovem, grande escriba, também, meu fraternal abraço. Audemaro.

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  3. Que justiça seja feita: Na época em que se construía estádios com a terminação ÃO (a sorte é que nunca tivemos um grandola com nome de CUNHA) senão teríamos um estádio batizado por CUNHÃO, estava em construção a colocação de uns dutos ali naquela baixada, para escoar o sangradoro do Açude. Nesta época jogávamos pelada no campinho do Aeroclube.Quando a turma resolvia deixar o Aeroclube para ir jogar no Estadual, para chegar mais rápido do que ir pela linha, eu dizia: VAMOS PELO MINERVÃO. Aí descíamos pelo curral de Nelly Rock, e passávamos por lá.

    Então, o padre que batizou o MINERVÃO, foi aqui o LUIZÃO!

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  4. Realmente, essa história é ainda contada na Palmeira. Eu era vizinho do Seu Minervo, e lembro-me da Campanha, e da festa da vitória, as Casuarinas ficou pequena, a poeirinha... Fez a festa. Muito boas as Histórias Aloísio.

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  5. Na descrição feita pelo conterrâneo, o saldoso Minervo tinha "bigodinho no rosto". Pelo amor de DEUS, onde se pode ter bigode, se não for no rosto? Mesmo sendo um bigodinho só pode ser acima do lábio superior, ou seja, no rosto.

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  6. Caro Luiz Manoel,
    "Bigodinho no rosto" foi uma espécie de pleonasmo (se é que você sabe o que significa essa figura de linguagem) que usei para dar maior ênfase à descrição da figura de Minervo Pimentel, tal qual quando dizemos: "- Vi, com meus próprios olhos".
    Agora, "Mané", toda crítica é aceita, principalmente aquela que corrige o meu sofrível Português. O que não aceito é crítica sobre os "erros" que escrevo, feita por alguém que chama "saudoso" (aquele que deixa ou deixou saudades) de "saldoso" (será que é aquele que deixa sal? Só você pode responder...).
    Continue lendo meus textos e procurando erros. Terei o maior prazer de aprender e corrigí-los. Mas este aqui, não!
    Saudações (com "u") palmeirenses.

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    1. Desculpe Aloisio Guimarães, eu não quiz ofendê-lo e não corrigi nenhum erro de português, pois não tenho capacidade pra isso. Gosto dos seus textos, já li todos e essa foi a única observação que fiz, mas não faço mais. Mas o Minervo Pimentel não deixou nenhuma saudade, pois, entre outros absurdos, citamos a destruição da Praça das Casuarinas, concordando com você, que chamou de "pecado". Por isso nós palmeirenses o chamamos de "saldoso" Minervo. Não há saudade. Um abraço.

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  7. Caros conterrâneos - se é que posso assim dizer - Manoel e Aloísio, pois quando nasci em Minador do Negrão no ano de 1953, era Município de Palmeira dos Índios. Ambos têm razão, um pelo pleonasmo, outro pela crítica. Todavia, falar do humilde Minervo que eu conheci muito bem, e, com quem sempre conversava muito, pois fui entregador dos jornais Diário de Pernambuco e Jornal do Comércio, e quando ia entregar os jornais sempre tinha um dedinho de prosa com seu Minervo, mesmo ele na Prefeitura. Era um cara simples, comunicativo, bonachão e carinhoso com as pessoas. Deixou muitas saudades de seu governo, com exceção da saudosa praça das casuarinas.

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