terça-feira, 7 de outubro de 2014

O ETERNO APRENDIZ

Texto de Carlito Lima

Domingo pela manhã eu saboreava um verona, sanduíche predileto, na “Palato”, acompanhado de um efervescente “capucinno”, quando Gerson sentou-se a meu lado na enorme mesa de casa de fazenda ornamentando o requintado ambiente.
Um homão com seus trinta e poucos anos, mais de 1,80 metros de altura, corpo de atleta, cara bonita, xodó das meninas. Hoje advogado brilhante, ambicioso, atuante.
Em boa conversa ele teorizava, o auge da beleza feminina está na maturidade, sabedoria de cama e mesa. Uma mulher de quarenta, cinquenta, sessenta anos, sabe do que o homem gosta. Discursou, como se estivesse no Fórum, defendendo a eficiência operacional da mulher madura.
Depois de ouvir seus argumentos, concordei, as mulheres com alguns quilômetros rodados têm prática mais apurada, sem desprezar uma bonita menina, uma jovem de 20 aninhos é revigorante.
Gerson empolgado com o assunto, contou-me a aventura delirante que está vivendo. Achando a vida mais bonita, mais cor-de-rosa por um amor maduro.
Meses atrás, ele frequentava um curso com alguns advogados, promotores, juízes, inclusive uma advogada beirando os sessenta, senhora letrada, inteligente, de um bom humor notável. Ele teve uma empatia instantânea por essa mulher, viúva, bela e gostosa.
Dora, três casamentos, além de casos amorosos, foi muito poderosa nos bastidores da política. Nas brigas do poder ela metia a mão de ferro, protegendo seus afilhados, seja no poder Executivo, Judiciário ou Legislativo, durante o mandato de seu amante, o governador, ela era ouvida, teve poder de decisão. Esse poder conquistou pela inteligência, firmeza e posições tomadas, principalmente na cama.
A coroa tem ânsia de viver. O mais de meio século não deixou marcas na jovem alma. Alegre, corpo cuidado, bem moldado nas academias e nos cirurgiões plásticos.
Mulher de muita leitura gosta de atualizar-se, aprender. Gerson e Dora frequentaram o curso durante três meses. Todas as noites estudavam juntos, gostavam da companhia. Ele a via como uma irmã mais velha, entretanto, apreciava os decotes ousados dos vestidos da bela dama.
Certa noite foram terminar um trabalho em grupo no espaçoso apartamento de Dora na praia de Ponta Verde. Mais de duas horas de discussão numa mesa circular, deixaram a conclusão do trabalho para outro dia. Dora ofereceu um gostoso lanche, queijo regado a vinho e uísque. O grupo se divertiu até tarde, ouvindo boa música, conversa inteligente. Gerson cantou dedilhando um violão, “Dora, rainha do frevo e do maracatu...”. Recebeu um beijo lambido no ouvido.
Foi sugerido continuar os trabalhos no sábado à noite, no mesmo local.
Sábado cedo, Dora foi ao mercado comprou camarão e arabaiana, o prato da noite, filé de peixe ao molho de camarão. Ligou para todos os componentes do grupo, se desculpando, pedindo adiar o trabalho para terça-feira. Não telefonou propositalmente para Gerson.
Quando ele, carregando livros e papéis embaixo do braço, pontualmente tocou a campainha, Dora abriu a porta com um largo sorriso, estava maravilhosa, vestido azul colado ao corpo. Gerson estranhou quando sua amiga falou no trabalho adiado. Convidou-o para entrar, seria uma companhia agradável se ficasse para jantar.
Sentaram-se na varanda com vista à praia iluminada por uma azulada lua bonita refletida no mar e nas palhas dos coqueiros. O uísque rolou, bons tira-gostos, Dora serviu o peixe com camarão.
Ao voltar para a varanda, colocou uma música suave, americana, “Heaven I’am heaven...”, traduzindo, “Paraíso, estou no paraíso”. Gerson deu-lhe a mão, saíram dançando, escorregando pela sala, ele cantou a canção em seu ouvido, puxou seu corpo com vigor, iniciaram uma seção de carinho e carícia, beijou-a, sussurrando ela pediu para ser levada ao quarto. Num impulso, colocou-a nos braços como se fossem recém-casados, empurrou a porta, soltou-a ternamente na cama. O resto é silêncio, como diria Shakespeare.
Depois dessa noitada, os dois continuam encontrando-se no mínimo três vezes por semana, adoram uma seção de matinê, assistindo filmes na televisão, comendo queijos, peixes e outros quitutes.
Gerson espera ansioso os encontros, sem preconceitos, que importa a diferença de 20 anos entre ele e a poderosa coroa? Ela sabe tudo e ensina, ele eterno aprendiz.
 

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