sábado, 7 de fevereiro de 2015

A EDUCAÇÃO DOMÉSTICA

Texto de Luiz Ferreira da Silva
ENGENHEIRO-AGRÔNOMO E ESCRITOR                 
CAPÍTULO XVII DO LIVRO "VELHOS TEMPOS DE INFÂNCIA"

Não me canso em valorizar os ensinamentos advindos de nossos pais e mestres daquela época, dando-nos juízo como diziam os de antigamente.
É a base de qualquer família, o esteio fundamental para o desenvolvimento da pessoa humana em termos morais, éticos, culturais e religiosos.
A minha experiência como filho e pai, além dos ensinamentos pela vida, convenceu-me de que a formação do homem passa por uma boa educação no Lar. É no recôndito da casa, simples ou abastada, que se aprendem os princípios da boa convivência, o respeito ao semelhante, a solidariedade humana, o cumprimento das ordens, o valor dos bens materiais e afetivos e o desprendimento para lutar por sua cidadania.
A gente capta quando uma pessoa teve uma deficiente instrução doméstica dada pelos seus pais, ao observar as suas atitudes não aprendidas no berço, cujo mau comportamento humano permanece arraigado no seu subconsciente, sendo, pois de difícil correção, sobretudo porque ela não se apercebe de seus atos.
E, para se implantar esse primeiro capítulo da iniciação humana, além do estabelecimento de regras e limites, valem muito os exemplos dos genitores.
Por outro lado, é importante que fique claro que a educação doméstica independe da condição social ou econômica, pois ela é indutiva, cujos ensinamentos podem ser expressos em quaisquer linguagens e ações, tanto ao nível do pobre como do rico. Ambos, pois, possuem os meios adequados, cada a qual ao seu modo, para implantá-la.
Nos últimos 3 anos, coordeno um evento - O Dia da Árvore - no Condomínio Bahama, Barra de São Miguel (AL), quando crianças plantam árvores. Participam os filhos dos proprietários, pessoas de posse, e os meninos das Escolas Públicas, pobres, numa maneira de integração via uma ação ambiental importante. As professoras os trazem sob um regime disciplinar que me lembra dos tempos idos. Todos em fila, com o Hino Nacional na ponta da língua, participativos e asseados. Lancham sem tumulto e não sujam o ambiente, colocando o lixo no seu devido lugar. Um exemplo até para os adolescentes abastados do condomínio, muitos deles indisciplinados, que deterioram os utensílios dos salões, afrontam os  guardas da CIRETRAN e põem em risco a vida de crianças com o mau uso de seus quadriciclos, provando a tese anterior de que não basta ser rico para ser educado. Até pelo contrário, muitos pais lhes dão o péssimo exemplo do “eu”: posso, mando, tenho dinheiro.
Também, é bom se frisar, que a educação doméstica ultrapassa os umbrais do Lar, estendendo-se ao respeito aos mestres, à reverência aos idosos e ao cuidado ao patrimônio público.
E, nos meus 77 anos, cada vez mais sinto o quanto aquela educação rígida, muitas vezes, produzia frutos, sobretudo ao comparar com os novos tempos, em que ela foi negligenciada por diversas razões. A mais importante; a falta de tempo dos pais, já que ambos trabalham e os filhos são criados pelas babás, na maioria das vezes.
Aqui, no meu prédio, Caviúna/Ponta Verde, num certo período tinha um garoto de uns 3 anos que vivia no playground com a “cuidadora” o dia todo, incluindo sábado e domingo, o que me chamava a atenção pela ausência do casal. O que será dele no futuro, em termos de ensinamentos do Lar?
Então, meu caro leitor, há de me perguntar:
- E na sua infância de Coruripe, como era?
- Ora, bem diferente da de hoje, pois, pois. As mães exerciam a função DO LAR e, como tal, assumiam as tarefas da casa como um todo, incluindo os “bruguelos”, dando-lhes os ensinamentos que abrangiam do comportamento à aprendizagem das primeiras letras. O NÃO era exercido sem constrangimentos e o garoto começava a sentir que havia certos óbices e entendia o seu limite espacial, diferentemente de hoje em que o SIM predomina e, cada vez mais, o filho ver crescente o universo ao seu dispor, não havendo obstáculos ao seu redor. Ele pode tudo.
Ninguém ficava traumatizado por um puxão de orelha, quando hoje uma simples repreensão pode levar a “vítima” ao psicólogo. Eram ensinamentos simples, mas que marcavam, não significando que não existiam os mal criados, rebeldes e recalcitrantes, pois a natureza humana é complicada, mas jamais com a conivência dos pais.
Vale a pena colocar aqui uma dessas orientações simplórias que recebi e que, até hoje, me orienta. Meu pai, que tinha somente o primário, dizia-nos: “- Quando vocês forem sentar no banco da praça e lá já estiver alguém sentado, peça licença primeiro”. Ele queria frisar que antiguidade é posto e aquele que ali já estava merecia respeito mesmo não sendo o dono do banco.
Aí eu me remeto a algumas pessoas do meu prédio que não sabem dar um bom dia aos que já se encontram no elevador. Seja o que for tempos diferentes, novo modus vivendi, aperreios da vida, há que se resgatar a simples, modesta e salutar Educação Doméstica, mesmo com sacrifícios de algumas exigências sociais do mundo moderno.

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