sábado, 4 de fevereiro de 2017

MARIANA KENNEDY

Texto de Aloisio Guimarães

Até poucos anos atrás não existia televisão, computador, videogame, DVD, celular, internet (e-mail, MSN e Orkut)... Mesmo assim nós tínhamos a possibilidade de "conversar" com pessoas residentes em qualquer lugar do Brasil, através de carta, já que quase todas as revistas publicadas na época tinham a "Seção de Correspondência", onde homens e mulheres se apresentavam à procura da sua "cara metade" ou de uma simples amizade.
Foi deste modo gratuito que milhares de brasileiros se corresponderam durante anos, se conheceram e muitos chegaram a casar. Quem sabe se seus pais não se conheceram assim?
Nos anos 60, a educação era muito rígida, o controle dos pais era bastante severo e a mínima atitude que fosse julgada “saliente” era corrigida com "cinturãozadas" nas costas! Sendo assim, como uma moça poderia colocar um anúncio em uma revista nacional e sem que seu pai tomasse conhecimento? Dezenas de cartas que ela iria receber... 
- Como driblar a vigilância do pai? Só tinha duas alternativas: dando o endereço de uma amiga e/ou usando um pseudônimo?
A minha irmã, Mariana Albuquerque, aderiu a este segundo grupo, usando o pseudônimo de Mariana "Kennedy", numa clara homenagem ao presidente John Fitzgerald Kennedy - JFK - à época, badalado presidente americano, por quem suspiravam as moças de todo o planeta. Mas a Mariana cometeu um grave erro: usou o mesmo endereço de lá de casa mesmo. O seu erro foi acreditar que, como o carteiro passava sempre à mesma hora, ela estaria de plantão, no portão de casa, e todos os dias era ela mesma quem receberia as cartas a ela dirigidas.
Dizem que "o castigo vem a cavalo" e, nesse caso, o "cavalo" foi o carteiro, quando, certo dia a minha irmã vacilou e quem recebeu as dezenas de carta foi o meu pai. Lembro-me muito bem do seguinte diálogo, entre papai e o carteiro:
- Deve estar havendo algum erro, aqui não mora nenhuma Mariana Kennedy...
- Mora sim, tanto que, todos os dias, ela recebe um monte de cartas...
Ouvindo a resposta do homem dos correios, o meu velho pai entrou em casa, com as cartas nas mãos, fumaçando de raiva:
- Mariana, que história é essa de Mariana Kennedy?!
Tremendo que só vara verde, Mariana não deu uma palavra...
Contrariando todas as expectativas de uma surra imediata, o meu pai lhe deu uma chance: mandou-a encher a boca de água, bochechas estufadas, e durante dois minutos ela não poderia beber e nem derramar nenhuma gota da água, caso contrário, iria apanhar.
Não sabemos como, mas ela conseguiu...

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