quarta-feira, 11 de outubro de 2017

TRATAMENTO DE CHOQUE

Texto de Aloisio Guimarães

Desde meus tempos de juventude que os cabelos brancos começaram a tomar conta da minha cabeça. Por conta disso, apesar dos meus 62 anos, aparento ter mais idade do que realmente tenho.
Determinado arquiteto, com quem já mantive relações profissionais, muito mais do que pessoais, é uma daquelas pessoas que logo se julga íntimo de todos. Nada de grave nisso. O chato é quando as brincadeiras de intimidade, mesmo que sadias, são em lugares inapropriados.
Pois bem, todas as vezes ele me encontrava, fazendo alusão clara aos meus cabelos e barba brancos, gritava:
- Ô, Papai Noel, como vai?
Não importava lugar, hora e companhia de nenhum de nós dois; o cumprimento dele para comigo era sempre este.
Lógico que isso foi irritando...
Em um dos domingos do mês de dezembro do ano passado, justamente perto do Natal, fomos almoçar no shopping (eu, minha mulher e minha filha). Mês de dezembro, perto do Natal, Praça de Alimentação lotada de famílias... Em determinado instante, ouvi um grito:
- Ô, Papai Noel, como vai?
Era ele, metido a engraçado como sempre!
Acontece que, nesta ocasião, ele também estava na companhia da sua esposa e da sua filha. E, como neste dia eu tinha “acordado com o ovo virado", respondi bem alto e com todas as letras, para que todos também ouvissem:
- Vem cá, filhinho! Senta aqui, no colinho do Papai Noel. Vem tirar um retratinho... Senta aqui, você vai adorar!
Ele perdeu a graça, fechou a cara e por um bom tempo não me chamou de Papai Noel.
Foi um santo remédio!
Como o brasileiro tem memória curta, ele já começa de novo...
Até quando?  Até o próximo convite para um retratinho.

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