terça-feira, 2 de janeiro de 2018

QUIPAPÁ NUNCA MAIS

Texto de Aloisio Guimarães

Nascido de família pobre, em Santa Luzia do Norte, cidade alagoana situada às margens da Lagoa Mundaú, Jota Silva, sempre se mostrou um menino inteligente. Apesar das dificuldades da vida, Jotinha, como era chamado, estudou bastante e conseguiu ser aprovado no concorrido vestibular de Engenharia Civil. Após cinco anos de intenso estudo, se formou e logo estava empregado no Estado. O tempo passou e cada governante que chegava promovia um arrocho nos salários dos servidores. A situação ficou tão insustentável que Jotinha, aos sessenta anos de idade, chutou o pau da barraca, largou o emprego e foi morar na cidade pernambucana de Quipapá, onde montou um mercadinho, considerado o “top” da cidade.
Apesar da idade, Jotinha ainda “gostava da fruta” e ficava de queixo caído todas as vezes que Maristela, uma linda e gostosa morena, de apenas 22 aninhos, entrava no seu mercadinho para comprar alguma coisa.  
Com o passar dos dias, ele soube, através de Clotilde, amiga de Maristela, que a sua paixão não era mais virgem, coisa que na cidade ninguém sabia, uma vez que um antigo namorado dela tinha tirado a virgindade da moça e "dado o pinote" para São Paulo. Ao saber deste segredo, Jotinha se animou e convenceu a Clotilde a “cantar” a Maristela para sair com ele, com a condição que não dissesse a ela quem era o interessado porque, se ela não aceitasse, ele ficaria em má situação.
Depois de algumas semanas “buzinando no ouvido” de Maristela, dizendo que o seu futuro amante secreto era um homem de bem, casado, discreto, que ninguém da cidade ficaria sabendo, Clotilde conseguiu convencer a garota a aceitar a proposta do Jotinha. 
- Seu Jotinha, convenci a Maristela a sair com o senhor. Como o senhor queria, não disse a ela quem era a pessoa interessada, que ela só iria saber na hora do encontro. Eu prometi dar a ela R$ 300,00. Nesse caso, serão R$ 400,00 porque eu mereço um prêmio, né mesmo?
Pronto, lascou tudo! Como ia tirar R$ 400,00 do caixa do mercadinho sem a sua mulher notar? Mas, como na vida tudo tem solução, durante oito semanas, Jotinha “surrupiou” R$ 50,00 do caixa do seu mercadinho, juntando dinheiro para sair com a garota e matar o seu tesão. Grana conseguida, chamou a Clotilde e avisou:
- Aqui está o dinheiro. Diga a Maristela que, domingo, oito horas noite, a pessoa que vai sair com ela, estará numa caminhonete vermelha, estacionada no oitão da igreja, entendeu?
E foi assim que ficou tudo acertado e pago.
Chega o domingo... Oitão da igreja, tudo escuro como breu e lá está o Jotinha, ansioso, sentado na boleia da sua caminhonete, esperando a sua "presa". Passados alguns longos e intermináveis minutos Maristela se aproxima, escondendo o rosto para não ser reconhecida por ninguém, vai direto para o veículo e, ao abrir a porta e ver quem era o seu conquistador, exclama:
- Seu Jotinha!!! E é o senhor?! E, nessa idade, o senhor ainda fode?!
Ao ouvir ser chamado de velho e ferido no seu orgulho de macho, nesse dia, Jotinha decepcionou: “não levantou”...
Meses depois, sem conseguir esquecer a vergonha da "brochada", Jotinha arrumou os seus “panos de bunda” e voltou para Alagoas. Quipapá nunca mais!

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