quarta-feira, 7 de março de 2018

O REI E O SACRISTÃO

POSTAGEM: ALOISIO GUIMARÃES

Era uma vez um Reino, rico e tranquilo, onde tinha donzelas, tinham castas, tinham amores, e existiam também, paixões sem amanhas...
O rei, recém-entronado, queria fazer uma mudança geral, inclusive no comando da abadia, que era tão bem conduzida pelo abade José. Mas, como sempre acontece com os fracos, o monarca procurou o velho abade, "cheio de dedos", arrodeios e dissimulações e disse-lhe que o povo queria mudança em tudo, e que ele atenderia a voz do povo, porque "a voz do povo era a voz de Deus", porém, estava ali para lhe oferecer uma última oportunidade dele provar o seu valor: ele seria submetido a um interrogatório, em praça pública, onde ele deveria ser sabatinado. Se não respondesse as perguntas propostas, seria sucedido no cargo, que ocupava há trinta anos. Dito isto, marcou o dia do interrogatório público e plebiscitário, onde seria decidido o destino do abade.
O abade se deixou abater pelo desrespeito do novo rei para com ele, tristeza captada pelo sacristão, que tanto era inteligente como era "sabido". Ciente da situação, o sabido sacristão comunicou ao abade:
- Não se aperrei abade, eu vou me fantasiar do senhor e vou comparecer ao interrogatório...
Chega o dia da inquisição...
A praça do palácio estava repleta de gente, ansiosa para assistir a prova oral do abade. No palanque armado, estava o rei e toda a sua corte, para onde foi levado o sacristão, maquiado e transvestido de abade, numa imitação perfeita. Após as explicações do rei diz ao povo, sobre o combinado, começam as perguntas:
- Estimado abade, eis a primeira pergunta: quantos sacos de estopa seriam necessários pra mudarmos de lugar o Monte Sinai?
O pseudo abade, com uma mímica circunspecta, pensativa, respondeu:
- Se conseguirmos um saco de estopa do tamanho do monte, só precisará de um...
A sábia resposta foi aplaudida pelo povo e acatada pelo soberano, que, em seguida anuncia a segunda pergunta:
- Estimado abade, qual é o meu valor para compra? Ou quanto valho, em moedas?
Mais uma vez, o sacristão fica alguns segundos em introspecção e pausadamente responde:
- O senhor se proclama um monarca cristão, se vangloria de Cristo, então o senhor não vale mais do que trinta moedas, uma vez que o seu valor não pode ser maior do que o do nosso Deus...
Neste instante, a ovação é geral e aplausos retumbam no quadrado real, que delimitava a praça de audiências do rei. O rei acena com as mãos e com a cabeça, dizendo-se satisfeito com a resposta dada e continua:
- Agora, estou bastante farto da inteligência deste abade e, para concluir, faço a última pergunta: abade, em que é que eu estou pensando agora?
O sacristão, mimetizado de abade, pensa alguns segundos e diz:
- O senhor está pensando que está falando com o abade José...
Dito isso, o sacristão arranca todo o seu disfarce, o povo entra em delírio e o abade José ganha o direito de comandar a abadia, até os seus últimos dias de vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário